Programa Caleidoscópio
Memória
As instituições envolvidas no Programa vão desde a Universidade Federal de Ouro Preto que tem buscado melhorar a sua atuação junto às comunidades, evidenciando o caráter da Universidade voltada para os interesses públicos, quanto ás escolas públicas de ensino fundamental e médio de Ouro preto, Mariana e Belo Horizonte, cidades em que o Programa atua, as quais por sua vez demandam da Universidade resultados e ações que colaborem com os impasses vividos no cotidiano quando nos referimos ao ato educativo. Contamos ainda com outros parceiros/as também de instituições públicas como o CEFET-MG e a Universidade Federal de Minas Gerais, além das parcerias estabelecidas com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e Prefeitura Municipal de Ouro Preto em 2009 e com a Prefeitura Municipal de Mariana a partir de 2010.
Para a realização deste trabalho os saberes da experiência são convocados na articulação entre teoria e prática. A proposta de uma intervenção coletiva realizada por vários surge a partir da necessidade
de criar outro tipo de resposta dos serviços e dos servidores públicos diante de um cenário marcado pela desigualdade social, pela segregação e pela violência, elementos que impactam tanto os usuários (crianças e adolescentes), que nos apontam a insuficiência e a pulverização das intervenções promovidas pelas diversas instituições de atendimento, quanto àqueles/as que são o porta-voz dessas políticas – os/as servidores/as públicos e agentes sociais, especialmente os/as professores/as.
A desarticulação entre os processos educativos, especialmente os de ensino e de aprendizagem propostos pela escola e a questão das mudanças subjetivas que atingem aos jovens e crianças no momento atual, bem como um desmantelamento de valores sociais e culturais, aliados a uma eterna crise econômica, são questões que vêm sendo largamente debatidas nos diversos espaços educacionais e exige de nós pesquisadores/as um olhar mais apurado sobre estes fenômenos.
Assim, o Programa Caleidoscópio visa agregar ações diversificadas que em conjunto possam permitir atingir situações como a relatada por uma diretora de escola pública que demandou o projeto em BH. “Estamos passando um sufoco na escola. São muitos problemas que tem demandado ações que não dependem somente da direção. Os/as professores/as estão cansados, desanimados, tristes. Alguns pensam em se exonerar. A escola tem estrutura material, mas as aulas não rolam, os alunos não têm motivação, são agressivos com as professoras e colegas. Os problemas da comunidade, principalmente a violência e o tráfico, tem atingido muitos deles; é uma cultura da ameaça, da cobrança constante e de pouco envolvimento ou retorno. O medo ronda muitos deles/as e as situações familiares são muito difíceis. Existe muita angústia nos professores e alunos e uma falta de condições do ponto de vista psicológico de enfrentar as situações”.
Guardadas as devidas proporções a realidade na cidade de Ouro Preto/MG também é parecida com esta de Belo Horizonte, e está circunscrita a situações de miserabilidade material e simbólica das crianças e adolescentes que recorrem a rede pública de assistência, saúde e educação, pobreza e vulnerabilidade social, o que por vezes atinge também ao corpo docente e a outras categorias profissionais que atendem a este público.
Em 2010/2011 ampliamos o Programa para o município de Mariana/MG que também enfrenta questões bastante complexas no que diz respeito à preservação de direitos e a inclusão social, agravadas por uma situação de vulnerabilidade e instabilidade política significativa.
Considerando então que há um mal-estar instalado seja do lado dos profissionais que visam o ato educativo, seja do lado das crianças e adolescentes que passam pelo ato educativo, buscamos elucidar e não escamotear este mal-estar, o qual é inerente ao processo civilizatório. O que fazemos a partir de nossas ações pode ter como efeito a construção de saídas – provisórias e circunstanciais aos processos aversivos com que nos deparamos todos os dias em nossas relações pessoais e sociais.
Consentimos que o mal-estar acima mencionado é inerente à condição humana, mas não o transformamos em impotência. Assim, as nossas ações são balizadas por uma posição ética que altere os efeitos de exclusão e segregação subjetiva e social. Este é o foco do Programa Caleidoscópio: buscar escutar e intervir de forma multidisciplinar e interinstitucional nas manifestações de mal-estar que perpassam o ato educativo, através de ações desenvolvidas em oficinas, laboratórios e projetos.
Ouro Preto, Mariana e Belo Horizonte
Minas Gerais, Brasil
2012